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Crise hídrica: empresas devem implantar medidas de contenção de energia


Diante da escassez de chuvas no País, as pequenas e médias empresas, para reduzir os gastos e evitar a falta de energia, devem considerar buscar serviços de eficiência energética. O Comitê Energia, da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), abordou o assunto em reunião.


À frente do comitê, José Goldemberg, também presidente do Conselho de Sustentabilidade da Entidade, apresentou reflexões sobre o estudo de sua autoria, publicado em parceria com o Instituto Clima e Sociedade (iCS), denominado “O enfrentamento de crises hídricas: o papel das energias renováveis na construção de uma matriz elétrica resiliente e de menor custo”.


Goldemberg explicou que, na atualidade, as usinas hidrelétricas são responsáveis por, aproximadamente, 65% da energia produzida no País. Embora o porcentual já tenha sido maior, o problema da atual crise decorre do fato de que os modelos de trabalho do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) ainda desconsideram o impacto das mudanças climáticas.


De acordo com o presidente do comitê, ao longo do século passado, ocorreram flutuações regulares no volume de chuvas sobre o território brasileiro. Em alguns anos, chovia mais; em outros, menos. Isso não gerava uma grande preocupação, de modo que, quando necessário, as usinas térmicas poderiam complementar a produção de energia.


Contudo, a situação atual é diferente do que se via no passado, de acordo com Goldemberg. “Os modelos da ONS ignoram até hoje que está havendo mudanças climáticas sistemáticas. Existem flutuações maiores da precipitação hídrica e uma redução de chuvas na Região Sudeste”, destacou. “O que está acontecendo neste ano, então, é uma morte anunciada”, frisou.


A energia proveniente de usinas termelétricas é muito mais cara do que as geradas nas hidrelétricas. Segundo o presidente do Comitê Energia, enquanto o custo do megawatt-hora (MWh) produzido em hidrelétrica pode chegar a R$ 200, a mesma produção em uma térmica gira em torno de R$ 1,4 mil. Deste modo, a produção mais cara e a escassez de chuvas explicam a única forma, no curto prazo, de reduzir o consumo: aplicando uma tarifa mais alta.


Goldemberg concluiu dizendo que, como solução a médio prazo, o País precisa ampliar as fontes de energia, incentivando a produção eólica, de biomassa e fotovoltaica (também conhecida como solar). Ele também destacou que as usinas hidrelétricas mais novas contam com reservatórios menores do que as em funcionamento há mais tempo.


“O negacionismo do Ministério de Minas e Energia custou caro. As pessoas alertavam o governo de que o que está ocorrendo com a precipitação hídrica no Brasil não é um acidente isolado, mas uma tendência sistemática, um indicativo claro de mudança climática”, ressaltou.


Eficiência energética


Tendo em vista o aumento do custo da energia elétrica, além do risco de racionamento, as pequenas e médias empresas podem adotar medidas que tornem o consumo mais eficiente. Segundo José Goldemberg, ações com esta finalidade já fazem parte da gestão de grandes empresas.


Na reunião, o diretor financeiro da Associação Brasileira de Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco), José Otávio Simões, destacou que a prestação de serviços de eficiência energética vem crescendo constantemente.


Ao atender a pequenos e médios estabelecimentos, as empresas de conservação de energia avaliam como ocorre o consumo naquela instalação. “Primeiro, se faz uma verificação geral do estabelecimento. Depois, vem o retrofit e as trocas de equipamentos, como ar-condicionado, motores e, também, hábitos de consumo. Muitas vezes, ao se deslocar um turno ou adotar uma ação, é possível conseguir de 10% a 15% de economia”, indicou Simões.


Além disso, os serviços de conservação de energia também contemplam a possiblidade de geração própria – com base em fontes eólicas, fotovoltaicas e de biodiesel – e de armazenamento, também chamado de storage.


Também presente à reunião, o presidente-executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Sauaia, comentou que os consumidores, tanto pessoas físicas como jurídicas, devem considerar gerar a própria energia.


“Pequenos negócios podem reduzir os gastos de energia elétrica e se tornarem mais resilientes às bandeiras tarifárias. Hoje, 700 mil consumidores geram sua própria energia fotovoltaica. Quando falta água, sobra sol”, ressaltou.

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